Título: Influência do linfócito B sobre a dinâmica populacional das células T reguladoras CD4+Foxp3+ em sítios linfoides intra- e extra-intestinais sob condição homeostática
Aluno: Isabella Nogueira da Silva Alves
Orientador(es): Prof. Fabio B. Canto
As células T reguladoras CD4+Foxp3+ (TREG), que podem se desenvolver no timo e em compartimentos extra-tímicos, exercem papel fundamental no estabelecimento da homeostase imunitária e da tolerância periférica, mantendo sob controle a ativação e a proliferação de linfócitos T CD4+ convencionais (TCONV, CD4+Foxp3- ). Logo, compreender os fatores que contribuem para o estabelecimento da homeostase das células TREG em órgãos linfoides periféricos torna-se essencial. O equilíbrio numérico de populações celulares em condição homeostática é mantido por mecanismos de proliferação e apoptose finamente regulados. Embora seja bem estabelecido que as células dendríticas contribuem efetivamente para o controle numérico-funcional de células TREG no ambiente pós-tímico, estudos mais recentes demonstram que o linfócito B também desempenha papel crítico neste processo. A deficiência in vivo de linfócito B é acompanhada pela redução nos níveis de células TREG em compartimentos linfoides extra-intestinais; no entanto, em órgãos linfoides associados ao intestino, sob contexto homeostático, os resultados são contraditórios. Além disso, os mecanismos utilizados pelo linfócito B para mediar o controle dos números periféricos de células TREG são pouco conhecidos. O objetivo deste trabalho, portanto, foi determinar o papel do linfócito B sobre a dinâmica populacional de células TREG em órgãos linfoides periféricos associados ou não à mucosa intestinal. Para isto, os níveis de células TREG (e de suas subpopulações CD25+ e CD25- ) presentes no baço, nos linfonodos periféricos (pLN) e nos linfonodos mesentéricos (mLN) foram comparados, por citometria de fluxo, entre camundongos μMT (congenitamente deficientes em linfócito B) e controles WT linforrepletos sob condição homeostática. Além disso, as atividades proliferativa e apoptótica das populações TREG e TCONV foram avaliadas nos mesmos sítios por meio da marcação com Ki67 e Anexina V, respectivamente. Nossos resultados demonstram que, em animais μMT, os percentuais de células TREG estão reduzidos em todos os órgãos linfoides analisados, quando comparados aos controles WT. A redução percentual de células TREG nos linfonodos (pLN e mLN) dos camundongos μMT está correlacionada com um aumento significativo no número absoluto de células TCONV CD25- . Por outro lado, os números absolutos das células TREG estão significativamente diminuídos no baço, embora permaneçam inalterados nos linfonodos dos camundongos deficientes em linfócito B. Consistente com esta observação, uma frequência aumentada de células TREG apoptóticas (Anexina V+ ) foi encontrada no baço, mas não nos linfonodos, dos animais μMT, indicando que a presença de linfócitos B é fundamental para garantir a sobrevivência das células TREG esplênicas. Notavelmente, o percentual de células TREG CD25+ mitóticas é exclusivamente aumentado no mLN, mas não no baço ou no pLN, dos camundongos μMT, sugerindo que o linfócito B, sob condição homeostática, restringe a proliferação das TREG CD25+ seletivamente em órgãos linfoides associados ao intestino. Tendo em vista que os números de células TREG CD25+ são indexados aos da população TCONV CD25+ , investigamos se a apoptose e/ou a atividade mitótica de células TCONV CD25+ estariam diferencialmente afetadas, em órgãos linfoides secundários intra- e extra-intestinais, pela deficiência em linfócitos B. De fato, a proliferação e a sobrevivência de células TCONV CD25+ , mas não das CD25- , encontram-se seletivamente aumentadas no mLN dos animais desprovidos de linfócitos B. Estes achados sugerem que os níveis fisiológicos de células TREG no mLN podem ser indiretamente regulados pelo linfócito B por meio de seu efeito sobre o compartimento de células TCONV CD25+ produtoras de IL-2. Em suporte a esta interpretação, a transferência adotiva de linfócitos B para hospedeiros μMT limitou precocemente a proliferação da população TCONV CD25+ no mLN, mas não no baço. Curiosamente, no entanto, a reconstituição com linfócitos B resultou em números absolutos elevados de células TCONV CD25+ no mLN, o que foi correlacionado com um aumento discreto, porém significativo, nas frequências de células TREG CD25+ neste sítio no intervalo analisado. Com o intuito de investigar se a microbiota intestinal influencia os distúrbios homeostáticos observados no mLN do animal μMT, fêmeas WT (doadoras de microbiota intestinal selecionada em presença de níveis fisiológicos de linfócitos B) e μMT (cujo microbioma intestinal foi moldado na ausência de IgA e outros fatores derivados do linfócito B) foram mantidas em co-habitação por 8 semanas, a partir da terceira semana de vida. Diferentemente do esperado, a exposição crônica de animais μMT à microbiota comensal de camundongos WT não reverte os distúrbios encontrados na população TREG presente no mLN na ausência de linfócitos B. Reciprocamente, os percentuais de TREG encontrados no mLN dos controles WT também não foram afetados pelo convívio com os animais congenitamente deficientes em linfócitos B. Coletivamente, os dados do presente estudo demonstram que o linfócito B impacta a dinâmica populacional de células TREG e TCONV, bem como de suas subpopulações CD25+ e CD25- , de maneira distinta em órgãos linfoides secundários associados ou não à mucosa intestinal. Experimentos adicionais serão necessários para dissecar os mecanismos moleculares envolvidos nos eventos de controle homeostático relacionados a cada sítio periférico.
Palavras-chave: células T reguladoras CD4+Foxp3+;linfócito B;homeostase periférica;células T convencionais CD4+Foxp3-;microbiota intestinal;imunorregulação
CD4+Foxp3+ regulatory T cells (TREG), which can develop in the thymus and extrathymic compartments, play a key role in establishing immune homeostasis and peripheral tolerance, keeping the activation and proliferation of conventional CD4+ T lymphocytes under control (TCONV, CD4+Foxp3- ). Therefore, understanding the factors that contribute to the establishment of TREG cell homeostasis in peripheral lymphoid organs becomes essential. The numerical balance of cell populations in a homeostatic condition is maintained by finely regulated mechanisms of proliferation and apoptosis. Although it is well established that dendritic cells effectively contribute to the numerical-functional control of TREG cells in the postthymic environment, more recent studies demonstrate that B lymphocytes also play a critical role in this process. In vivo B lymphocyte deficiency is accompanied by reduced levels of TREG cells in extraintestinal lymphoid compartments; however, in lymphoid organs associated with the intestine, under a homeostatic context, the results are contradictory. Furthermore, the mechanisms used by B lymphocyte to mediate the control of peripheral numbers of TREG cells are poorly understood. The objective of this work, therefore, was to determine the role of the B lymphocyte on the population dynamics of TREG cells in peripheral lymphoid organs associated or not with the intestinal mucosa. For this, the levels of TREG cells (and their CD25+ and CD25- subpopulations) present in the spleen, peripheral lymph nodes (pLN) and mesenteric lymph nodes (mLN) were compared by flow cytometry among μMT mice (congenitally deficient in lymphocyte B) and lymphorepleted WT controls under homeostatic condition. Furthermore, the proliferative and apoptotic activities of TREG and TCONV populations were evaluated at the same sites by means of Ki67 and Annexin V labeling, respectively. Our results demonstrate that, in μMT animals, the percentages of TREG cells are reduced in all lymphoid organs analyzed, when compared to WT controls. The percentage reduction of TREG cells in lymph nodes (pLN and mLN) of μMT mice is correlated with a significant increase in the absolute number of TCONV CD25- cells. On the other hand, the absolute numbers of TREG cells (and their CD25+ and CD25- subpopulations) are significantly decreased in the spleen, although they remain unchanged in the lymph nodes of B lymphocyte-deficient mice. Consistent with this observation, an increased frequency of TREG cells apoptotic (Annexin V+ ) was found in the spleen, but not in the lymph nodes, of the μMT animals, indicating that the presence of B lymphocytes is essential to ensure the survival of splenic TREG cells. Notably, the percentage of mitotic CD25+ TREG cells (Ki67+) is exclusively increased in the mLN, but not in the spleen or pLN, of the μMT mice, suggesting that the B lymphocyte, under a homeostatic condition, selectively restricts the proliferation of CD25+ TREG in lymphoid organs associated with the intestine. Considering that the numbers of CD25+ TREG cells are indexed to those of the CD25+ TCONV population, we investigated whether apoptosis and/or mitotic activity of CD25+ TCONV cells would be differentially affected, in secondary intra- and extra-intestinal lymphoid organs, by the deficiency in B lymphocytes. In fact, the proliferation and survival of CD25+ TCONV cells, but not CD25- , are selectively increased in the mLN of animals devoid of B lymphocytes. These findings suggest that physiological levels of TREG cells in the mLN may be indirectly regulated by the B lymphocyte through its effect on the IL-2 producing CD25+ TCONV cell compartment. In support of this interpretation, adoptive transfer of B lymphocytes to μMT hosts precociously limited the proliferation of the CD25+ TCONV population in mLN, but not in the spleen. Interestingly, however, reconstitution with B lymphocytes resulted in high absolute numbers of CD25+ TCONV cells in the mLN, which was correlated with a slight but significant increase in CD25+ TREG cell frequencies at this site in the analyzed range. In order to investigate whether the intestinal microbiota influences the homeostatic disturbances observed in the mLN of the animal μMT, WT females (donors of intestinal microbiota selected in the presence of physiological levels of B lymphocytes) and μMT (whose intestinal microbiome was molded in the absence of IgA and other B lymphocyte-derived factors) were kept in cohabitation for 8 weeks, starting from the third week of life. Contrary to expectations, chronic exposure of μMT animals to the commensal microbiota of WT mice does not reverse the disturbances found in the TREG population present in mLN in the absence of B lymphocytes. Conversely, the percentages of TREG found in the mLN of the WT controls were also not affected by living with animals congenitally deficient in B lymphocytes. Collectively, the data from the present study demonstrate that the B lymphocyte impacts the population dynamics of TREG and TCONV cells, as wellits subpopulations CD25+ and CD25- , distinctly in secondary lymphoid organs associated or not with the intestinal mucosa. Additional experiments will be needed to dissect the molecular mechanisms involved in homeostatic control events related to each peripheral site.
Keywords: D4+Foxp3+ regulatory T cells;B lymphocyte;peripheral homeostasis;CD4+Foxp3-conventional T cells;intestinal microbiota;immunoregulation