Título: Identificação de receptores de alta afinidade contra componentes manosilados da parede celular fúngica
Aluno: Marina da Silva Ferreira
Orientador(es): Profa. Ana Carolina de Siqueira Couto De Oliveira
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As micoses emergiram nas últimas décadas dentre as principais causas de enfermidades humanas. Devido à ausência de especificidade para um determinado hospedeiro, os fungos são capazes de causar doenças em múltiplas espécies. Estes microrganismos interagem com hospedeiros ambientais, como a espécie de ameba de vida livre Acanthamoeba castellanii e macrófagos de diversas espécies, encontrando no interior destes, um ambiente propício para proteção, sobrevivência e disseminação. Nosso grupo descreveu a importância do receptor de manose (MR), identificado na superfície amebóide, como uma das principais vias de ligação fúngica. Na literatura, o receptor de manose também é descrito por sua participação na interação entre fungos e macrófagos. Assim, é possível estabelecer uma relação de similaridade entre amebas e macrófagos, não apenas por compartilharem propriedades de estrutura celular, motilidade, fisiologia, captura por emissão de pseudópodos e fagocitose, mas também pelo semelhante mecanismo de interação com microrganismos, apontando para possível evolução convergente dos receptores envolvidos. Diante disso, investigamos as proteínas de superfície de ambos modelos, afim de encontrar possíveis candidatos à receptores de alta afinidade contra manoproteínas e mananas de parede celular fúngica. Inicialmente, após biotinilação das superfícies de ambos, seus extratos apresentaram perfil proteico variando entre 10-250 KDa. Determinamos a ligação dessas proteínas aos fungos patogênicos Candida albicans, Cryptococcus neoformans e Histoplasma capsulatum. Confirmamos que os extratos de macrófagos murinos apresentaram maior intensidade de ligação quando comparados aos extratos de A. castellanii, apontando para a maior complexidade proteica daqueles em relação à superfície amebóide durante a interação. Observamos altíssima afinidade dos extratos à manose e mananas. Assim, direcionamos a nossa procura, através da purificação dos extratos protéicos dos fagócitos por cromatografia de afinidade, em coluna de manose e enriquecimento em placa sensibilizada com manose solúvel. E assim, confirmamos por Western blot, a presença desta lectina no extrato. Identificamos nos extratos enriquecidos de A. castellanii proteínas de, aproximadamente, 150 kDa, 75 kDa, 55 kDa e 35 KDa. Já nos enriquecidos de macrófagos murinos foram identificadas proteínas entre 170 e 50 KDa, além de bandas de menores pesos moleculares, em torno de 35KDa. Para determinar a importância desta lectina ligadora de manose na interação, realizamos ensaios de fagocitose, na presença e ausência de manose solúvel como inibidor. Porém encontramos menores porcentagens de inibição nos experimentos com macrófagos, concluindo que, diferentemente das amebas, diversos outros receptores podem participar do mecanismo de interação, de forma compensatória, destacando a importância deste tipo de interação para cada espécie de hospedeiro e a possível diversidade. Em complemento, realizamos ensaios para avaliar a capacidade de eliminação dos fagócitos, em ambas condições. E os resultados mostraram menor número de unidades formadoras de colônias, na presença de manose, em ambos os casos, o que nos leva a concluir que há dependência deste receptor para a interação das células fagocíticas com a superfície fúngica, levando a sua sobrevivência no interior dos fagócitos. Os dados sugerem que, provavelmente, ocorre a evolução e o surgimento de outras vias de interação em hospedeiros superiores. Futuramente, pretendemos realizar a construção, produção e caracterização de lectinas-Fc, utilizando sequências das lectinas ligadoras de manose identificadas, por espectometria de massas, na fusão com a porção Fc efetora de imunoglobulinas murinas. Como manoproteínas e mananas estão presentes universalmente na parede celular fúngica, estas proteínas quiméricas permitiriam o reconhecimento dos fungos por receptores Fc (FcR) presentes na superfície dos fagócitos, promovendo mecanismos de imunidade (inata e celular) e de ação antifúngica.
Palavras-chave: A. castellanii; macrófagos; interação; fungos patogênicos; receptores de manose
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Mycoses have emerged in recent decades among the main causes of human diseases. Due to the lack of specificity for a given host, fungi are capable of causing disease in multiple species. These microorganisms interact with environmental hosts, such as the free-living amoeba species Acanthamoeba castellanii and macrophages of different species, finding in their millieu an environment conducive to protection, survival and dissemination. Our group described the importance of the mannose receptor (MR), identified on the amoeboid surface, as one of the main pathways for fungal binding. In the literature, the mannose receptor is also described for its participation in the interaction between fungi and macrophages. Thus, it is possible to establish a similarity relationship between amoebas and macrophages, not only because they share properties of cellular structure, motility, physiology, capture by pseudopod emission and phagocytosis, but also by the similar mechanism of interaction with microorganisms, pointing to possible convergent evolution of the receptors involved. Therefore, we investigated the surface proteins of both models, in order to find possible candidates for high affinity receptors against mannoproteins and fungal cell wall mannans. Initially, after biotinylating the surfaces of both, their extracts showed a protein profile ranging between 10-250 KDa. We determined the binding of these proteins to pathogenic fungi Candida albicans, Cryptococcus neoformans and Histoplasma capsulatum. We confirm that the extracts of murine macrophages showed greater binding intensity when compared to the extracts of A. castellanii, pointing to a higher protein complexity of those in relation to the amoeboid surface during the interaction. We observed also a high affinity of both extracts to mannose and mannans. Thus, we direct our search, through the purification of protein extracts of phagocytes by affinity chromatography, in a mannose column and enrichment in a sensitized plate with soluble mannose. And so, we confirmed by Western blot, the presence of this lectin in the extract. In A. castellanii enriched extracts we identified proteins of approximately 150 kDa, 75 kDa, 55 kDa and 35 KDa. In the enriched with murine macrophages proteins between 170 and 50 KDa were identified, in addition to bands of lower molecular weights, around 35 KDa. To determine the importance of this mannose-binding lectin in the interaction, we performed phagocytosis assays, in the presence and absence of mannose as inhibitor. However, we found lower percentages of inhibition in the experiments with macrophages, concluding that, unlike amoebae, several other receptors can participate in the interaction mechanism, in a compensatory way, highlighting the importance of this type of interaction for each host species and the possible diversity. In addition, we carry out tests to evaluate the killing capacity of phagocytes, in both conditions. The results showed a smaller number of colony-forming units, in the presence of mannose, in both cases, which leads us to conclude that there is dependence on this receptor for the interaction of phagocytes to the fungal surface and survival in their millieu. The data suggest that, probably, occured the evolution and the appearance of other ways of interaction in superior hosts. In the future, we intend to carry out the construction, production and characterization of Fc lectins, using sequences of mannose-binding lectins identified, by mass spectrometry, in the fusion with the Fc effector portion of murine immunoglobulins. The manoproteins and mannans are universally present in the fungal cell wall, these chimeric proteins would allow the recognition of fungi by Fc receptors (FcR) present on the surface of phagocytes, promoting mechanisms of immunity (innate and cellular) and antifungal action.
Keywords: A. castellanii; macrophages; interaction; pathogenic fungi; mannose receptors.