O vírus da Zika foi responsável pela epidemia de doença viral infecciosa nas Américas em 2015, incluindo o Brasil. Este vírus é transmitido aos seres humanos principalmente pela picada de mosquitos infectados e pode levar ao desenvolvimento de um quadro febril similar àquele causado pela infecção com o vírus da Dengue. Todavia, os casos graves de infecção pelo vírus da Zika são marcados por danos neurológicos em uma parcela considerável de recém-nascidos infectados – causando a microcefalia ou síndrome congênita, assim como numa minoria dos cerca de 20% de adultos infectados que manifestam sintomas da doença. Entre os anos de 2016 e 2018, a comunidade científica já havia chegado ao entendimento de que o desenvolvimento de células produtoras de anticorpos contra o vírus do Zika é crucial para o controle da infecção. Apesar disso, os mecanismos de controle da produção de anticorpos em indivíduos infectados com o vírus da Zika não eram compreendidos até então. O trabalho desenvolvido durante o curso de doutorado do aluno Jamil Kitoko pelo programa de pós-graduação em Imunologia e Inflamação da UFRJ mostrou que a resposta eficaz de células produtoras de anticorpos depende da ativação de um outro tipo celular, os linfócitos T CD4 auxiliares. Foi visto em modelo de infecção com o vírus da Zika em camundongos adultos que a produção de anticorpos específicos contra o vírus é prejudicada na ausência de linfócitos T CD4 auxiliares. Além disso, animais que não desempenham uma resposta imune apropriada contra o vírus apresentam uma doença mais grave - evidenciado pela presença maciça de células inflamatórias e do vírus no cérebro, quando comparado àqueles que apresentam linfócitos T CD4 auxiliares protetores. Também foi revelado neste estudo um potencial mecanismo pelo qual os linfócitos T CD4 auxiliares estariam controlando o desenvolvimento das células produtoras de anticorpos, através da produção da proteína denominada interferon gama. Os linfócitos T CD4 auxiliares são sabidamente um dos principais produtores de interferon gama no curso de infecções virais e foi visto neste trabalho que a interrupção da ação desta proteína junto ao seu receptor também reduz a produção de anticorpos contra o vírus da Zika em animais. Este conjunto de resultados foi publicado em 2018 na revista NATURE COMMUNICATIONS, com a coautoria da doutora Carolina Lucas, além de ter composto a tese de doutorado do referido aluno defendida em meados de 2020, sob a orientação dos professores Marcelo Bozza e Priscilla Olsen. O trabalho teve ainda a colaboração de diferentes laboratórios nacionais e internacionais, além de financiamentos diversos – dentre os quais o da CAPES. A outra parte da tese foi possível com a colaboração dos pesquisadores Hernandez Silva e Juan Lafaille da Universidade de Nova Iorque e Daniel Mucida da Universidade de Rockefeller e levou a identificação dos macrófagos como as principais células do sistema imune infectadas pelo vírus da Zika no início da infecção no cérebro. De modo original, estes macrófagos foram caracterizados utilizando técnicas avançadas de imagem 3D do cérebro inteiro, tendo sido observada uma ampla abrangência destas células em diferentes áreas do parênquima cerebral, usualmente margeando vasos sanguíneos. Estudos futuros devem avaliar qual o papel dos macrófagos na infecção e inflamação cerebral causadas pelo vírus da Zika. Por fim, os resultados do trabalho indicam que o papel crítico dos linfócitos T CD4 auxiliares na proteção contra o vírus da Zika deve ser considerando no processo de desenvolvimento de vacinas que visem induzir a produção de anticorpos protetores e consequentemente prevenir a doença causada pelo vírus da Zika.
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